galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



TALK SHOP 2: O LÍNGUA-SOLTA

Cuidar do projeto gráfico de um texto teatral é sempre uma honra, ainda mais quando o convite vem de uma editora com a qual tenho uma relação bastante afetiva, no caso, a Réptil, da muito querida Luiza Figueira de Mello Gonçalves; relação essa boa o suficiente para me garantir ser imaginativa, sem as rédeas curtas as quais a maior parte das editoras ditas "grandes" costumam colocar seus designers de livros.

"O Língua-Solta" é um monólogo, de autoria de Miriam Halfim, sobre Bento Teixeira, autor de "Prosopopeia", considerado o primeiro bardo do barroco brasileiro. O texto, entre a comédia bufa e o drama, mescla elementos de fins do séc. XVI com outros bastante atuais; em um trecho, Bento canta "Deixa a vida me levar", do também grande bardo Zeca Pagodinho, como se fora um canto gregoriano. É um monólogo curto, que, ao meu ver, renderia no máximo uma hora de espetáculo. O texto pode ser facilmente enquadrável no currículo básico de um curso de literatura no Ensino Médio, dada sua natureza documental, didática, e divertida, sendo apreensível pelas mentes avessas às leituras mais extensas do que 96pp dos adolescentes em geral.

Tendo isso em mente, preparei um projeto gráfico ao mesmo tempo delicado, econômico, atual e apenas de longe barroco, já que não nutro muito apreço pelo período histórico, ainda mais o barroco do Brasil-colônia. Abaixo, dois spreads do miolo do livro.


O formato adotado tem 360X600 pt, ou seja, em torno de 12,7X21 cm, na proporção 3:5. É um formato especial, mas que tem um bom aproveitamento de papel, pois é apenas 1,3 cm mais estreito do que o ISO 14X21cm. O resultado final é um livro leve (apenas 64pp), e espartanamente "comprido", sem exageros.

A mancha gráfica centrada na página é uma escolha da própria autora, que, por conta da natureza do texto (um monólogo), definiu que este deveria ser composto assim. Decidi, portanto, ignorar a convenção de que as margens externas dvem ser maiores do que as internas, e as mantive na mesma proporção.


Para as páginas de abertura, utilizei a reprodução de uma gravura do séc. XVII das vestes de três condenados pela Santa Inquisição. A última figura, quase que inteiramente coberta pelo retângulo da folha de rosto, exibe o sambaqui que Bento Teixeira foi obrigado a usar depois de confessar, após passar vários anos preso por heresia. Optei por deixar essa imagem coberta pela informação textual pois a considirei lúgubre demais, haja vista a figura fanfarrona do bardo.

As tipografias utilizadas são a Granjon, reprodução fidedigna da Lynotipe de um dos tipos do puncionista do séc. XVI Robert Granjon, discípulo de Claude Garamond, e Syntax, fonte desenhada em 1969 por Hans Meier, considerada por Robert Bringhurst "uma verdadeira neo-humanista sem serifa".

Embora "neo-humanista sem serifa" seja uma contradição em termos, já que as fontes não-serifadas só surgiram em meados do séc. XIX, a classificação procede, pois a Syntax apresenta semelhanças interessantes em seu desenho com tipos humanistas. Assim como Bento Teixeira é o primeiro bardo do barroco brasileiro, optei por adotar uma tipografia que aludisse também aos primeiros anos do barroco, ainda muito próxima da Renascença, que é o caso da Granjon.


O colofão, detalhado, é uma pequena homenagem ao melhor colofão que já vi, de uma reduzidíssima gramática francesa, inteiramente composta em Perpetua e Gill. Como ambos os tipos são extremamente ingleses (Gill, de Eric Gill, é a tipografia utilizada para a sinalização do metrô londrino!) e um tanto diferentes entre si, Laurent Ungerer, Jean-Baptiste Taisne, Muriel Bertrand e Bruno Charzat decidiram justificar suas escolhas de forma didática e simples, que me emociona desde criancinha.


O livro em questão é o Bescherelle: La Conjugaison pour tous, 1997, Hatier, Paris. Sinceramente, espero que, onze anos depois, o colofão siga o mesmo. Um colofão detalhado é sinônimo de uma edição bem cuidada.

A capa não tem absolutamente nada de especial. Covers are overrated; me limito a disponibilizar apenas a primeira capa, com o preto esmaecido, por conta da péssima visualização do pdf para impressão em telas de computador (RGB).


Busco fazer uma homenagem, ainda que rasteira, à coleção de teatro da Penguin Books dos anos 1950, período em que a editora foi sacudida pelas presença de Jan Tschichold como diretor de arte. O preto é intencionalmente não calçado, de forma a ficar transparente uma vez impressso, trazendo "para a frente" o vermelho do brasão de Pernambuco, da primeira edição da "Prosopopeia".

O papel do miolo é off-white (papel pólen), impresso em monocromia, e a capa, em quadricromia, pois preferi não aborrecer a gráfica demandando Pantones.

Agora, é esperar para ver o resultado impresso, já que mandei a última versão do miolo, hoje, para a gráfica. Dedos cruzados, dedos cruzados!

PS: A peça "O Língua-Solta" tem estreia marcada para 22 de Julho, no Centro Cultural da Justiça Federal, aqui no Rio de Janeiro. Pra quem se interessar, vale a pena dar uma olhada nessa reportagem da revista de História da Biblioteca Nacional sobre o espetáculo.

por Amanda Meirinho, em 16.7.09 |




2 comentário(s)
Anonymous Henrique Placido disse…

Belo projeto gráfico!

O colofão é a cereja. Dá vontade de bater palmas terminar um livro bonito e ver que o designer se preocupou em especificar tudo.

10 de setembro de 2009 às 10:26  


Anonymous Guto Sguissardi disse…

Parabéns pelo belo trabalho, pelo blog e pelo portfolio.
Irei, aos poucos, consumindo todo o excelente conteúdo!
Fica aqui o convite para conhecer nosso trabalho:
www.diagramaeditorial.com.br

um abraço.

6 de abril de 2010 às 12:11  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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