galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



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Muitas vezes confunde-se o convencional com o pouco criativo. Regras não existem à toa; obedecer um certo rigor tipográfico garante quase sempre um resultado melhor, para o olho experimentado, do que o nascido por inclinações intutivas. Claro que a contravenção é salutar, mas a parcimônia, a beleza a partir da compreensão das regras, é bastante bem vinda.

Meu autor favorito é Jan Tshichold. Ele é a razão pela qual eu penso diariamente em usar gravata borboleta e sair descobrindo cânones secretos por aí.


Tschichold é minha grande inspiração de nome impronunciável; há quem o chame de "tchicold", no sotaque suíço, e quem, como eu, arrisque "tschic'old", em alemão de Berlim. Seu The Form of the Book: Essays on the Morality of Good Design é meu livro de fé. Meu ensaio favorito, "Correlação coerente entre Páginas de Livro e Mancha Tipográfica", já foi lido e relido tantas vezes que a lombada está por ceder entre as páginas 61 e 90 do livro

O que Tschichold diz é simples: estude, observe, repita e aprenda. A fórmula persiste, sim, e ecoa há séculos no estudo da tipografia. Lê-se que a harmonia só é apreensível a partir de uma relação matematicamente coerente entre todos os elementos de uma página (seu formato, inclusive). Experimente colocar seu gênio de lado, aplique isso, e pronto, o resultado terá uma beleza rigorosa, impecável, e extremamente fluida. Quase infinita.

É claro que quase ninguém se importa a fundo com isso. Penso no entusiasmo solitário de Tschichold ao classifcar o Diagrama de Villard como "verdadeiramente emocionante". A obsessão pela harmonia, encontrada em uma relação geométrica, facilmente reproduzível... quem ama tanto tipografia a ponto de se alterar com isso? Mas, não falo de mestres apenas. Eu, que sou pequena, quase pulei de alegria, ontem, quando descobri o algoritmo ideal para eliminar de vez as linhas frouxas em uma página de texto em português, e, digo, qualquer página de texto em português, com qualquer tipologia. Qualquer um cairia no sono se eu explicasse como fiz isso.

E, para um livro tão bonito quanto esse, nada me revolta tanto quanto o projeto gráfico mal-cuidado da edição brasileira. Quem o fez seria capaz de roubar uma ovelha: não alinhou as páginas de abertura de capítulo ao grid, nem ao menos calculou o kerning. E está no colofão, "Este livro foi composto em Sabon (...) em acordo com os princípios pregados por Jan Tschichold". As pessoas acham que capa dura e pólen fazem com que certos erros passem despercebidos. Imperdoável.

Bem, sofro de tipofilia, e preciso me controlar, pois conheço meu eleitorado, e sei que a conversa é muito "insider" pra quem entra aqui só pra saber como anda minha vida. Mas, a verdade é que estou tão absorvida pelo que considero ser minha vocação, que mal tenho tempo para me concentrar no que realmente importa, como decidir de uma vez como vou comemorar meu aniversário esse ano. Aceito sugestões, aliás.

No mais, abraços aos que ficam, que vou reler, só mais uma vez, o "Correlação coerente entre Páginas de Livro e Mancha Tipográfica". Até mais!

por Amanda Meirinho, em 3.6.09 |




3 comentário(s)
Anonymous Sandro Lopes disse…

Vou confessar uma obsessão e um pecado: o meu nome é Sandro e sou tipófilo (ou tipoólico?) e ainda não li o Form of the Book, para grande angústia minha. Primeiro porque queria uma edição que não encontro, segundo porque sofri um choque quando vi o The New Typography mal paginado em papel gloss, num tracking aberto usando a Univers. A minha bíblia é o "Elements of Typographic Style" e se soubesse ler alemão, também teria os originais de Muller Brockmann e outros. O que existe traduzido para português é, em regra, muito mau do ponto de vista da adaptação e paginação. O "Essay on Typography" de Gill, com alteração de formato e justificação quebram a essência da obra. Tenho um facsimile do original, que mimetiza os erros de impressão da Joanna. Incomparável. A tipografia respeita também a métrica de língua, como já discutimos, e a adaptação implica sempre "perdas". De tipófilo para tipófila, ninguém nos entende :)(E já reparei que tens aversão aos erros ortográficos, como eu).

3 de junho de 2009 às 09:03  


Blogger Laurent Gabriel disse…

saudade de vocês. beijo no artur. :)

6 de junho de 2009 às 03:00  


Anonymous Anônimo disse…

Comprei essa edição brasileira precisamente, através de um excelente serviço (Estante Virtual), um exemplar em 2.ª mão que pertenceu a um certo Bruno Fabri (obrigado, Bruno, por ter mantido o livro em tão bom estado!). Confesso que a capa me deixa um bocado inquieto (aquele filete enorme ali por cima de um subtítulo em corpo tão pequeno). Mas uma maravilha poder comprar por 20 EUR (incluindo portes) um livro que na edição inglesa não só é raro como muito, muito caro. Tschichold é um autor curioso, com um estilo seco mas muito divertido em certos momentos (sobretudo na sua obsessão de controlar os maus hábitos tipográficos da "populaça"). Há um outro pequeno livro dele muito interessante, de que possuo a edição espanhola da Campgrafic, o seu último livro creio, de 1960, com preceitos de aplicação tipográfica expostos de forma menos "académica" e mais acessível. E, claro, recomendo o "Jan Tschichold, Designer: the Penguin Years": não muito bem escrito, mas incrivelmente bem documentado (e, SIM, possui o facsimile das "Penguin Composition Rules"!).

Pedro Marques

PS: Obrigado pela referência ao meu blogue no seu twitter(há 20 anos atrás esta frase só mesmo num mau episódio do "Galactica")

10 de julho de 2009 às 05:27  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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