galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



POEMINHAS

Faz mais de um ano que uma autora da casa entregou a compilação de algumas poemas seus para a publisher, que, educadamente, se recusou a publicá-los, porque, em linhas gerais, poesia não vende. O original foi entregue com discrição, como se a austeridade, cultivada pela autora junto com os livros sérios sobre história das relações trabalho no Rio de Janeiro, estivesse para sempre corrompida no primeiro verso de "batatinha quando nasce". Era poesia doce, que nada tinha a ver com a aspereza dos seus textos acadêmicos… um lado dela que nós, que não participamos de sua intimidade, não poderíamos sequer conceber.

Não guardei aquelas poemas, na verdade, nem quis lê-los. Sinto que invado o espaço do outro, já que não entendo poesia direito, acho verso tão emocionante quanto os e-mails que mando de vez em quando para alguns amigos pessoais. Mas às vezes faço meus poeminhas e, quando os releio, me sinto menina, pequena e sensível como a historiadora consagrada ao expor aquele pedaço de si para a publisher.

Por exemplo, esse poema, que escrevi esse ano, em abril. Gosto bastante dele, mas só consegui mostrá-lo para quatro amigos, três deles poetas bem melhores do que eu. Agora que o turbilhão passou, tomei coragem, e publico.

E, na madrugada de domingo, nosso abraço comprido
eu, seminua, você, não.
Reduzidos à porção mais íntima de nós mesmos, fomos capazes de nos amar plenamente nos quinze minutos que precedem o fim da madrugada e o raiar do dia,
mas só nesses quinze minutos, não mais.

No dia seguinte, somos apenas bons amigos,
e nos apressamos em classificar o indicidente íntimo de
"estranhíssimo".

Eu sou capaz de declarar meu amor a você numa hora dessas,
mas, quando o faço, minto.
Tanto que, quando você me perguntou o que eu murmurava entre os dentes, eu suspirei, e respondi
"bobagens"
porque sei que não sei mais o que sinto.

Despida da minha prepotência, me rendo à vida, que mais uma vez me dá uma rasteira,
e torço pra que você, menino, cresça junto comigo.

Gosto muito de você, querido.

Talvez eu devesse adotar um pseudônimo, algum nome que me fizesse me inserir nesse meio (a poesia) sem que minha imagem pessoal fosse ferida. Eu gosto de Zoé, acho um nome bonito, se combinasse com meus sobrenomes reservaria ele para uma filha. Zoé Zoé, que tal?

Esse outro é de 2006. Foi um ano que me fodi muito até começar a namorar com o François, em outubro, mais ou menos. O poema é de agosto. Na época eu estava gostando de um garoto, o que foi uma merda, porque eu não me sentia apaixonada por ele (pelo menos não do jeito que SEI me apaixonar), e ele até curtia sair comigo, mas nunca chegamos a namorar.

Vou-me embora meu bem que o dia já vai nascer
E muito embora eu desejasse abraçar você e tudo mais
Deixarei isso pra lá

Segurando sua mão bem junto à minha eu
Largo
E deixo cair da mesma forma que uma lágrima
Um olhar de raiva reprimida e tanto desgosto
Que não se sabe mais a diferença entre um naco de carne crua
E o seu gozo.

Deixarei isso de lado da mesma forma que sorrio quando o gosto é amargo
E tento cozinhar a fogo lento em um dia frio
Chocolate quente e queijo coalho
(suspiro).

Saudades dos dias quando eles eram mais compridos
Vazios
Muito embora goste da noite quando cai cedo
E o dia amanhece acanhado
É que a noite é para os apaixonados
É fato.

Vamos embora meu bem que o dia já vai nascer
E muito embora estejamos assim tão calados
Palavra pra quê
Um adeus mudo é um adeus bem dado

Eu nunca aprendi a usar mesóclise direito. Hoje em dia eu evito, acho pernóstico. Ninguém fala que "vou-me indo", né.

Na época em que escrevi esse poema era estagiária na Nova Fronteira, e tinha a tarefa inglória de avaliar os originais mandados pelos mortais (ou seja, pessoas sem referências), redigir pareceres, e enviar as tristes cartas de recusa. Depois de avaliar textos de cerca de 1.000 pessoas peguei uma espécie de repulsa, melhor, PAVOR por aqueles textos ruins em que os sonhos e expectativas do autor foram diluídos num aglomerado de palavras pomposas que não querem dizer muita coisa. Essa experiência me marcou profundamente, e me levou a evitar uma série de vícios de linguagem, em especial períodos de mais de três linhas.

Por outro lado, depois desse estágio eu praticamente parei de escrever por prazer. É foda, a gente adquire um senso crítico apurado, acaba sendo duro demais consigo mesmo.

O último poema foi revisto em 2006, mas foi desenterrado provavelmente de algum diariozinho meu de 2003.

E pouco a pouco me apaixono por você.
Guardo suas palavras bem vivas na memória
Decoro seu sorriso
e o repito em frente ao espelho.

Rabisco seus olhos grandes
Esboço rostos felizes
Sonho acordada mais do que dormindo
e suspiro.

Dou tempo
Semanas
Meses
Dias

Gosto de saber o que não sei
Gosto de saber que me apaixono
Não de vez
e sim devagar…
…calma, serenando

Por você.

Só me lembrei desse poema em 2006 depois de assistir um filme terrível sobre uma menina rica e maluca que seduz uma vizinha num verão no interior da Inglaterra. Rolou uma catarse imediata, mimimi de sair do cinema chorando (os bons entenderão). Entendo quem namora mulher não, cara.

Deu pra notar que eu só sei fazer poesia de amor. ESSA SOU EU ESSE É MEU CLUBE risos. Por trás desses 13.691 tweets e posts sobre tipografia também bate um coração.

por Amanda Meirinho, em 19.11.10 |




3 comentário(s)
Anonymous Anônimo disse…

ah, a paixão.

21 de novembro de 2010 às 04:25  


Blogger Amanda Meirinho disse…

tchunarublazer/ a paixão

23 de novembro de 2010 às 08:13  


Blogger Ricardo Senra disse…

poetinha

6 de dezembro de 2010 às 10:46  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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