galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



BIZARRE LOVE TRIANGLE

Fernando Meirelles enviou um e-mail para o pessoal da O2 Filmes, pedindo para que não acumulem muitos arquivos durante a gravação, e se limitem a guardar apenas o necessário para a edição final. Uma questão objetiva: falta espaço físico nos computadores da produtora, logo, é preciso que seja diminuído o número de informação a ser processada.

A discussão, calcada numa questão prática (time is money) foi alçada à posição de verdadeiro “manifesto” por parte da imprensa. A matéria "Fernando Meirelles lança manifesto contra farra digital" de Bruno Natal, publicada em 4 de julho de 2010 pelo jornal O Globo, põe “O método” na posição de verdadeira defesa ao “cinema de arte”.


Com cinema digital, queimaram-se etapas no processo de produção, como a revelação da película, mas foram criadas outras formas de se ocupar esse “tempo” vago; seja ao se fazer vários takes da mesma tomada, armazená-las, editá-las, etc.

Mas evitar a “gordura” não significa o retorno romântico à época em que o tempo parecia ser utilizado de forma mais cônscia. Significa, apenas, corte de custos. Sem surpresas: apregoamos a não-existência de “verdades”. A invenção mediática em cima de uma discussão prosaica, mas não inocente, faz parte do espetáculo.

O mesmo vale para outros produtos culturais. Com o esgotamento das vanguardas, não é mais cabível tecer convenções. A própria discussão estética é considerada ultrapassada. Valoriza-se o assombro, o drama, a performance. O resto é o resto.

Na literatura brasileira contemporânea, autoras como Paula Parisot espetacularizam a própria criação artística, criando performances como, no caso, o confinamento voluntário em um aquário de vidro numa livraria, com o intuito de promover seu último livro, "Gonzos e Parafusos".
Em tese,
(...) imersa no espaço branco, Paula encarnou a personagem de seu novo livro, "Gonzos e Parafusos", uma psicanalista quase esquizofrênica, que nutre verdadeira obsessão pela obra "O Retrato da Baronesa Elisabeth Bachofen-Echt", de Gustav Klimt -- ostentada na capa do livro. (fonte: http://www.colheradacultural.com.br/content/20100317223716.000.4-N.php).
É um discurso válido? É uma bobagem? Juízos objetivos não fazem parte do léxico pós-moderno. Na inexistência da “verdade”, everything goes.

Apadrinhada por Rubem Fonseca, autor que considera sua principal influência, Parisot não vende apenas seu livro. Vende seu espetáculo, sua performance.

Encontro de Rubem Fonseca com Paula Parisot durante a performance em questão

A simpatia de um autor consagrado basta para que o livro de Paula Parisot seja considerado, pelo menos, “notável”. No mais, permanece a atenção que a autora traz para si ao se expor, ainda que “pela arte”, num aquário de vidro numa livraria paulistana.

Mas não são todos os autores contemporâneos que parecem valorizar o papel da perfomance. Marcelo Mirisola, em sua crônica “Um novo animalzinho no Zoológico”, publicada em 24 de julho de 2010, ataca o posicionamento espetacularizado de vários autores contemporâneos, dentre eles Paula Parisot.
Caros leitores, queridas leitoras, tive paciência, eu juro, então eu disse, didaticamente, que o Rubem Fonseca, aquele velho sacana que saiu do Rio e foi até São Paulo pra dar sushi na boca da alpinista literária, a tal de Paula Parisot, estava apenas interessado em chupar a xota performática dela e, enfim, depois que lhe disse que a “performance” da amiguinha dele deixou o departamento de marketing da editora Leya feliz da vida e antes de lhe explicar como é que se abria uma retroxota com a ponta da língua, ou seja, no melhor da entrevista, o garoto, sublinhe-se estudante de Jornalismo, teve um chilique: ele me acusou de não entender nada de performances e artes plásticas, eu lhe disse que era exatamente por causa disso que escrevia livros, falei para ele criar vergonha naquela cara, e disse que, além de ingênuo, ele estava começando muito mal na profissão (...). (idem)
Se valendo de termos chulos, o autor parece defender o resguardo, por parte da “boa” literatura, em relação ao circo mediático. Não é, porém, um bom exemplo de crônica, já que Mirisola parece estar mais interessado em insultar seu interlocutor, o “viadinho cultural”, do que em expor, de forma coerente, seus pontos de vista.
E não tem mais, nem meio mais, você acha que jogar sinuca é performance? E chupar cu de mulata? Nesse momento, ele fingiu que não entendeu, e eu fiz questão de ser objetivo e explícito: escritor que é escritor, eu disse, não precisa fazer projeto, nem pesquisa, não precisa de planilha nem de cronograma, muito menos de performance, estou sendo claro ou será que você vai me reprovar porque, além de funcionário do Itaú, você também é da comissão que analisa projetos literários na Petrobras? (ibidem)
A leitura gera mal-estar: seria Marcelo Mirisola tão ignorante a respeito do que é uma performance a ponto de responder com estupidez à única pergunta feita pelo seu interlocutor, ou estaria ele cônscio do seu papel performático, interpretando, portanto, um prolongado esquete de humor duvidoso? Intencionalmente ou não, nasce daí o espetáculo.

Embora a crônica seja provavelmente o mais fluido dos gêneros literários, o texto em questão não é um bom exemplo. A jocosidade de Mirisola desperta, no máximo, consternação. O autor não trabalha bem com o arquétipo do “viadinho cultural” por ele criado; antes, reafirma seus preconceitos. Embora o grotesco seja um tema importante na criação literária, o texto de Mirisola tem a força de uma ofensa, e só.

Dado o cansaço da verdade, parece não ser mais possível apontar o “certo” e o “errado”, e sim o que, dado o contexto, parece apenas “adequado” e “inadequado”. A opinião de Marcelo Mirisola, a perfomance de Paula Parisot, a interpretação da imprensa dos e-mails de Fernando Meirelles aos seus funcionários: na constante inconstância contemporânea, as fronteiras entre manifestações discursivas se dissipam. Tudo parece se conectar em um grande espetáculo, porque não, teatral, sem que ninguém ouse ocupar o papel de servo da verdade (afinal, que verdade?) na construção dele.

É perigoso, porém, confundir fluidez com generosidade. Os discursos se multiplicam, mas não são absorvidos ou analisados, em especial os produtos culturais. Pelo contrário; as relações de poder persistem. O marginal continua marginal, o periférico, excluído, e o subdesenvolvido, pobre.

Numa bizarra solidão coletiva, existimos.

por Amanda Meirinho, em 10.8.10 |




3 comentário(s)
Anonymous Henrique Placido disse…

Nesse texto anti-performático o Mirisola foi, também, bastante performático. O engraçado é que, à parte meu conhecimento superficial sobre a "performance" da moça, concordo com ele no que se refere ao objetivo dela, gerar buzz para o próprio livro. Afinal, ao executar uma performance tão datada em tema e em forma — já se montou "casa de vidro" até em shopping, para programa de TV — ou o performer é medíocre ou não tem objetivos tão "artísticos" assim (nada contra).

Ou, talvez, quem sabe o que ela tenha pretendido desnudar não seja "A Difusão dos Limites da Privacidade na Atualidade", mas sim a alegria com que a mídia e o público se jogam nessas armadilhas. Uma espécie de Duchamp do século XXI ou Damien Hirst da plebe.

A graça que vi em achar Mirisola correto está no fato de que ele poderia muito bem estar falando de si mesmo. Quanto desse caga-regrismo e falta de educação é autêntico? Será que essa persona de autor misantropo não ajuda a criar hype e vender livro (ironia: o rótulo de "autor misantropo" também é bastante associado ao próprio Fonseca, um campeão de vendas)? Será que ele usou o stunt publicitário da moça para criar outro?

Ou talvez o Mirisola não esteja realmente querendo denunciar "A Cooptação Mercadológica da Alta-Cultura e a Doutrinação Cultural da Juventude", mas sim desnudar a alegria com que mídia e público embarcam no clichê da mitificação personalista, etc, etc, etc...

10 de agosto de 2010 às 15:20  


Blogger Amanda Meirinho disse…

Concordo com você Henrique, aliás, repito parte das suas colocações no post. Mas não sei das reais intenções do Mirisola... que rendeu uma perfomance, sim, rendeu!

11 de agosto de 2010 às 13:04  


Blogger Camilla Lopes disse…

nessa questão que você coloca Amanda, "se valendo dos termos chulos e tal" permite-me minha querida, digo que a literatura é um campo aberto sem espaço para coleguismo, respeito ou seja lá o que for. Não há espaços para ofendidos mas muito para defesa e quem se defende está, ao meu ver - humilde, bem humilde - praticando o lindo exercício de Sócrates que é a dialética. No caso da escritora ela é um saco vazio, já que literatura é um pouco como ir no banheiro, ato solitário do qual não se espera muitas recompensas, nem sempre o escritor é um maldito mas a necessidade de escrever, um ringue eterno, é uma maldição, acredite, e nela não há espaços para performances, autopropagandas e demais achaques.

7 de janeiro de 2011 às 11:14  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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