galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



FERRIS BUELLER'S DAY OFF

Ontem resolvi apresentar John Hughes para minha vizinha de oito anos. Não consegui. Os primeiros minutos de Curtindo a vida adoidado, dublado, foram o suficiente para ela achar o filme estranho, e ir para o computador jogar paciência. Não a culpo... coloquei o dvd no áudio original, e, recostada em um pufe, me dediquei à tarefa de mais uma vez me emocionar com esse clássico da Sessão da Tarde.


Ferris Bueller's day off é um filme melancólico, que trata de temas complexos, caros à idade inventada da adolescência, que se perdem nos cortes das exibições do filme na televisão. É a história de um rapaz egocêntrico, impossivelmente magnético, pretensioso e arrogante, que resolve aproveitar ao máximo um dia de verão.

Os motivos de Ferris para curtir são simples. Por ser a nona vez que falta à escola àquele ano, ele sabe que será difícil repetir a empreitada; e esse é seu último ano no colégio: as responsabilidades de jovem adulto se anunciam como o inevitável golpe de estado popular para um caudilho sul-americano. Portanto, imbuído do carpe diem ilusório de "ei, tem-se 16 anos somente uma vez, 'vamos curtir'", Ferris liga para seu melhor amigo deprimido, Cameron, e dá um jeito de tirar da escola sua namorada, Sloane, a fim de aproveitar ao máximo um dia ensolarado ao lado dos dois.

O que se segue é uma sucessão de acontecimentos divertidos e melancólicos, onde o egocentrismo de Ferris é usado para fazer desse o dia mais feliz de sua vida e de seus amigos. Sua camaradagem com Cameron é impressionante: o rapaz está perdido em suas próprias dores inventadas, "tão tenso que", nas palavras de Ferris, "se botassem um pedaço de carvão no rabo dele, dali sairia um diamante". É extremamente invasiva a postura de Ferris para fazer do amigo o que ele considera um homem, e, ao mesmo tempo, deliciosa a tensão criada a partir do carpe diem forçado.

A frieza arrogante e camarada de Ferris para com seu melhor amigo precisa ser quebrada em diversos depoimentos do rapaz para a câmera, pois nem o próprio espectador consegue compreender suas verdadeiras intenções. E, mesmo abrindo seu coração para nós, o charme de Ferris Bueller faz dele too cool for school, colocando seu melhor amigo na confortável posição de coadjuvante de si mesmo. Cameron é um panguá, Ferris, é o anti-panguá. É uma amizade e tanto.


Sloane, a namorada de Ferris, é uma menina lânguida e sofisticada. Uma dama de dezesseis anos, que não leva o namoradinho à sério, pois não enxerga nele (e nem pretende enxergar) um Homem Apaixonado. De certa forma, a frieza de Ferris a contamina, e, embora não aparentem desconforto, Sloane e Ferris sabem que o relacionamento entre os dois é, provavelmente efêmero. Ferris constata isso quando pede Sloane em casamento na bolsa de valores, enquanto Cameron, solitário, imita os gestuais yuppies, e ela ri do namorado. Mas ele está falando sério: novamente, é preciso que Ferris olhe para a câmera e explique para nós, espectadores de seu carisma, suas intenções e sentimentos. Seu excesso de segurança o trai. Ele não aparenta ser louco pela menina, e nem ela por ele, muito menos têm os dois maturidade para extrair dessa tranquilidade material para enxergar daí um casamento. Cameron, pessimista, faz um comentário sobre a vida a dois arruinada de seus pais. É uma cena extremamente triste.


Quase tão cruel quanto a declaração de Ferris à Sloane é àquela em que ele se aproxima de uma parada e sobe no carro alegórico, deixando seu amigo e sua namorada temporariamente excluídos de sua felicidade. Ambos olham para Ferris com um misto de admiração e censura: seriam eles capazes de fazer o mesmo? Provavelmente, não. Ferris é impossível, de um charme juvenil que faz dele objeto de desejo e admiração por todos ao seu redor. Como diria Grace, a secretária do colégio, "The sportos, the motorheads, geeks, sluts, bloods, waistoids, dweebies, dickheads - they all adore him. They think he's a righteous dude."

Em sua solidão, Sloane, a columbina, e Cameron, pierrô, se dedicam a destrinchar o charme egocêntrico de Ferris, o arlequim. Ambos estão felizes por serem, acima de tudo, amigos do rapaz. Cameron começa a enxergar a vida com novas cores, e, ao meu ver, ele e Sloane flertam nessa cena. Inevitável: dezesseis anos, RESPIRANDO, nada mais normal do que flertar com o melhor amigo panguá do seu namorado.

Nada, porém, se anuncia. Ferris está tendo o SEU momento. Shake it all baby, twist and shout. Resta aos seus amigos abandonados esperar que ele saia do pedestal, e, sendo impossível reprimir seu comportamento, admitir com doçura a coadjuvância de suas próprias vidas.

Papel esse que Jeannie, irmã de Ferris, reluta em aceitar. Ela tem raiva. E tem razão: todos amam seu irmão, e ela, que nem namorado tem, só é lembrada por ser a irmã de Ferris Bueller. Jeannie é uma imagem patética da frustração, pois ela sabe que ninguém vence Ferris, mas não entende que não cabe a ela desmascará-lo, ou, simplesmente, desafiá-lo. Ela e Ed, o diretor do colégio, se lançam nessa tarefa, e, por ser esse um filme da Mtv sobre Ferris Bueller e não sobre outro adolescente qualquer, se dão muito, muito mal. Em níveis diferentes, claro. Pelo menos Jeannie ganhou um beijo de um desconhecido que mexeu sexualmente com ela. Pobre Ed. Dirt Harry às avessas.

Não há nada de transgressor no comportamento de Ferris. Ele é narcisista, como a maior parte dos jovens acha bonito ser. O julgamento do diretor da escola e de sua irmã é preciso, mas nada o atinge: ao final, Cameron, Sloane e Ferris conseguem se safar, cada um a seu modo, de ter seu dia arruinado. Cameron deverá enfrentar a ira de seus pais, o que parece ser necessário para que daí ele consiga, enfim, tomar prumo na vida; Sloane não tem o que temer, pois está com Ferris, cuja estrela brilha por ela, e, em um grau menor, para ela; e Ferris é Ferris.



Uma desconcertante mensagem é deixada porém, como uma despedida da adolescência rumo à idade adulta. Talvez Ferris, Cameron e Sloane tenham continuado amigos, talvez suas vidas tenham tomado novos rumos e o amor os tenha dilacerado. Não há como mensurar o impacto da idade adulta, imposta no momento mais esfuziante de suas curtas vidas. As reticências se espalham ao final do filme, como as primeiras estrelas que brilham no céu ao final daquele que foi, sem dúvida, o dia de folga mais importante de vida de Ferris Bueller. Nas palavras dele: "Life moves pretty fast. If you don't stop and look around once in a while, you could miss it."


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Irado o timing da vida, Ferris. Irado.

por Amanda Meirinho, em 12.4.10 |




5 comentário(s)
Anonymous Anônimo disse…

fiquei especialmente contente pelo respirando em caixa alta e pelo tal timing da vida, iradíssimo.

guilherme semionato

12 de abril de 2010 às 11:47  


Anonymous Felipe Santoro disse…

Amanda, sigo sem ver esse egocentrismo todo do Ferris. Sim, seu magnetismo irresistível faz com que tudo a sua volta se vire para ele. Mas não é ele que força tudo pra que se vire pra ele. Sempre vi ele no filme como um transgressor, sim. O filme é para jovens. Não adultos. Existe uma tensãozinha do 'ai, agora pegam ele'. E quem está do outro lado? Figuras adultas clássicas da nossa infancia, nossos pais, nossos professores. Ferris é trangressor contra a vida adulta. Transgressor contra o tempo. Ferris Bueler é o menino maluquinho.
Ferris quer parar o tempo e sentir toda a juventude num gole só. Mas ele não quer isso sozinho. Ferris passa o filme todo tentando com que o Cameron desfrute também. Cameron tem toda uma melancolia que o impede de ser feliz, de se liberar. Ferris bota ele pra participar do golpe no restaurante, convence ele a pegar o carro do pai (e ele não faz isso por si, faz pelo amigo. tá e por si tb, é uma ferrari, não vamos culpar o garoto..). Ferris não quer sua apoteose sozinho. Não tem graça sozinho. Ferris tem esse sentimento de Cidadão Kane, sim. De que adianta estar no topo do mundo e estar sozinho? Quando ele sobe num carro alegórico e canta, não é ele sozinho se apresentando a todos. Mas todos se apresentando com ele, numa sinergia que apenas ele conseguiria. Os amigos param e contemplam como quem tem orgulho de estar participando daquilo.
E eu não vejo tanta tensão sexual ou não entre Cameron e Sloane. Sempre vi uma relação de ciúmes entre os dois. Na verdade, Cameron queria muito ter uma garota como Sloane. Gatinha, atenciosa e perdidamente apaixonada por ele. Mas ele não quer Sloane. Ele quer a idéia de Sloane. O que Sloane representa para o Ferris é o que Cameron queria para ele. Ao final, Cameron é muito mais seguro de si quanto a se as coisas vão dar certo, muito por causa do amigo Ferris.
De resto, concordo em todo sobre a irmã e sobre como este filme não é exatamente uma obra pra ser compreendida aos 8 anos.

Desculpa a demora pra comentar. Esse trabalho tá estragando minha internets

12 de abril de 2010 às 12:28  


Blogger Amanda Meirinho disse…

Minha visão de mundo entra em choque com a sua. Acho Ferris mimado e narcisista, quero mais que ele se foda para entender que a vida não é fácil para ninguém. E talvez, tudo seja uma piração mesmo da cabeça do Cameron, não? Algo a se pensar rs

12 de abril de 2010 às 12:49  


Anonymous pancho villa disse…

Cara, não consigo gostar desse filme. Me parece uma versão adolescente do Alta Fidelidade (ok, o curtindo veio antes... bem, por isso mesmo adolescente, não?). Só que o Alra fidelidade já é adolescente... Então, então, oh não, a adolescência é infinita... De todo modo é um pastelão americano meio farsestico... Alá Esqueceram de mim...
Ok, memoria afetiva é memoria afetiva. vale a sensação de quando bateu pela primeira vez... Afinal eu sou fascinado pela sacra trilogia e k entre nós ela é uma bela porcaria (excetuando-se o Imperio contra ataca, curiosamente o único que não é dirigido pelo George...)

12 de abril de 2010 às 17:09  


Anonymous vela disse…

uma nova e bela visão sobre o filme. pretendo assistí-lo de novo com esse texto na mente

13 de abril de 2010 às 10:12  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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