galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



TUTORIAL, PARTE 2: DUAS TIPOLOGIAS DE TEXTO

No post anterior, verificamos quais são as sabatinas adotadas por mim na definição do grid tipográfico de um livro de texto, e, em uníssono, a definição da entrelinha e do formato.

O numeral "absoluto" com o qual componho o grid não nasce, porém, de uma escolha aleatória. Embora para mim seja mais prático pensar o formato do livro antes de adequá-lo a um typeface específico, ressalto que a escolha nasce de uma série de estudos sobre qual fonte é a mais apropriada para a entrelinha com a qual pretendo trabalhar.

Para tanto, busco dominar informações como o grau de inclinação do eixo, terminais, serifas, etc, de pelo menos 5 fontes de texto (serifadas) de meu font folio. Embora o número pareça reduzido, conhecer a fundo a estrutura de minhas fontes favoritas me dá maior segurança para contextualizar meu trabalho, e evitar assim maiores preocupações no decorrer do projeto.


No início desse ano, me apaixonei pela Apollo, de Adrian Frutiger. Sua estrutura é contemporânea (a fonte foi criada em 1965), com terminais orgânicos, ligeiramente arredondados, que considero apropriados para os livros de estudo a serem publicados pela editora. Percebo, porém, que muito embora a Apollo me seja muito querida, a maior parte dos designers editoriais com quem convivo não conhece seus atributos, sem dúvida virtuosos, na composição econômica de grandes massas de texto.


Normalmente, ao ser incubido de criar o projeto gráfico de um calhamaço, o designer recorrerá à Minion, ou, se possível, ao seu redesenho, a Minion Pro, por serem as fontes mais econômicas que lhe virão à mente. Ambas são criações contemporâneas de Robert Slimbach, sendo consideradas por mim, Robert Bringhurst, e grande parte dos tipófilos pelo mundo, duas das mais belas neo-humanistas do séc. XX.

MINION VERSUS MINION PRO

Embora ambos os desenhos das "irmãs" Minion pareçam iguais, as fontes possuem diferenças sutis em seu desenho. Chamo a atenção para a ligeira variação da altura x (altura das minúsculas, sem as hastes ascendentes) de ambas.

A variação da altura x não é, porém, o único aspecto no qual as fontes diferem. Repare a ligeira diferença do olho entre a Minion Pro, cujas serifas sobrivem até em uma impressão reprográfica (impressão a laser a 150 dpi, THE HORROR) e a Minion, menos robusta.

A justaposição entre as duas fontes ilustrará de forma precisa essa diferença.

Repare como a Minion Pro em cinza, no segundo desenho, praticamente encobre o desenho de sua irmã "mais velha", a Minion?

A observação detalhadamente cartesiana dos aspectos tipográficos da letra "e" em ambas as fontes poderá convencer até o mais cético dos olhares de suas disparidades.

Repare como a linha verde parece sempre subjugar as linhas vermelhas? Isso se dá porque o olho da Minion Pro é mais largo do que o da Minion, o que a faz ser menos econômica para texto. Porém, para impressão, a Minion Pro é a escolha mais acertada, pois seu desenho não será facilmente arruinado por conta de equívocos gráficos.

COMPOSIÇÃO

Uma vez compreendida a estrutura da Minion e da Minion Pro, seria bastante simples para mim compor todo e qualquer livro com mais de 30000 toques com essas duas typefaces. Porém, mesmo reconhecendo as muitas virtudes de ambas as fontes, especialmente da Minion Pro, devo admitir que não me dou por satisfeita em tomar essa decisão.

A família Minion é amplamente utilizada nos livros de texto extensos contemporâneos. Realmente, nenhuma fonte é tão econômica, e, tendo altura x levemente elevada, tão legível, para a composição de livros de texto em geral. Seu desenho é simples, e, por ser uma releitura moderna de uma forma clássica, não possui a austeridade excessiva de uma Granjon, ou até mesmo de uma Garamond. Mas, novamente, é uma escolha fácil demais usar a Minion/Minion Pro em todo e qualquer livro extenso. E escolhas "fáceis" tornam banais até crème brulée, quando embalado por uma rede de supermercados.

APOLLO VERSUS MINION PRO

Ao pensar o projeto de um livro, eu busco priorizar a adequação histórica da fonte em questão em relação ao tipo de obra composta. No caso, como componho normalmente livros de teoria e história da educação contemporânea, não tenho como definir uma fonte estritamente adequada , já que não existe uma fonte "de livros de estudo"; porém, busco conseguir o mais coerente dos resultados, haja vista essa limitação estrutural.

A opção pelo uso da Apollo nos últimos cinco livros que compus nasceu, justamente, desse meu inconformismo. Queria um typeface moderno, de serifas robustas e sem grandes acidentes, que compusesse bem em grandes massas de texto, mas que fugisse da obviedade de uma Minion Pro. A escolha pela Apollo não foi mais do que natural.



Sem dúvida alguma a Minion Pro é mais econômica, na largura do texto, do que a Apollo; mas sua altura x um tanto elevada, ao meu ver, a torna menos leve do que a fonte de Frutiger.

Por opção pessoal, costumo valorizar a entrelinha na composição de livros de texto. Creio que os espaços em branco entre as linhas são mais confortáveis quanto mais maiores sejam, dentro do limite do bom senso, é claro. Está descartado para mim, portanto, o uso fontes de altura x elevada, como a Electra, parra esse tipo de projeto gráfico.

Embora muito bela, a Minion Pro sempre parece, para mim, um tanto pesada na composição de grandes massas de texto. Não é nenhuma Times New Roman, é claro, mas, mesmo assim, me incomoda. E, sempre que posso, acabo por valorizar a entrelinha utilizando uma fonte que não precise ser excessivamente diminuída para tanto, como é o caso da Apollo.

Observe o mesmo spread do livro Mediações Históricas apresentado no post anterior, em Minion Pro e em Apollo, respectivamente.


O ideal é recorrer à Minion Pro quando não há saídas para a composição do livro senão uma mancha no limite da adequação tipográfica. Afinal, quando se está trabalhando com prazos apertados, e, em tempos de crise, economia de papel, tempo, dinheiro!, o designer não tem muitas alternativas senão usar formatos padronizados, manchas abarrotadas, e uma tipologia minimamente redentora.

A linha de produção do grande mercado editorial não dá muitas chances para se encontrar a "beleza", esquecida em tantos livros compostos displicentemente no correr dos séculos. É preciso, antes, lutar por essa "beleza", resgatá-la. E aí, quem sabe, será possível encontrar embalagens de salgadinhos com as informações sem erros grosseiros no kerning...

ENTENDENDO A APOLLO


Embora não tenha o rigor geométrico de uma Bodoni, a Apollo possui muito mais ângulos retos em sua estrutura do que se poderia supor.


A Apollo não pode ser considerada uma homenagem à forma renascentista, como é o caso da Minion Pro, ou uma releitura de fontes românticas, como a Mrs Eaves e a Filosofia de Zuzana Licko. Estruturalmente, porém,seu desenho possui linhas orgânicas, naturais, como uma suavização da agudeza de sua irmã mais velha, a Méridien, de 1954.


Ao meu ver, a modulação "orgânica" de seus terminais é conseqüência do processo fabril usado em sua punção: a fototipia. Como a Apollo é uma fonte composta em filme, e não em tipos de metal, foi permitido ao designer maior liberdade para a composição de seus traços, intencionalmente mais delicados, mantendo porém a robusteza intrínseca à fonte. Roliça, pequena, e econômica: essa é a Apollo.

***

Ao tentar organizar, passo a passo, como funciona meu processo criativo, acabo por esbarrar em algumas questões, em especial no que tange a organização lógica do meu saber. Afinal, quando trabalho, entro em piloto automático, sendo um tanto difícil para mim exprimir meus processos em palavra escrita.

Não é preciso compor tantos diagramas quanto os que apresento aqui para saber minimamente como "funcionam" as tipologias. A experimentação empírica ainda é a melhor sabatina. Observar a adequação das fontes, memorizá-las, e só então partir para a composição do livro: o importante é manter-se coerente, enquanto projetista, aos seus objetivos.

Não é preciso conhecer um sem-número de fontes não óbvias para se compor bem um livro. Óbivas ou não, o ideal é conhecer as boas tipologias, com a palma de sua mão, antes de adequá-las ao projeto em questão. Às vezes, é melhor perder alguns dias estudando a ter problemas mais à frente com o projeto.

Para quem quiser saber mais sobre o "espírito" das fontes, recomendo a leitura do blog Letritas, em especial o artigo Sensibilidad Tipográfica (em espanhol do Chile).

"Correlação coerente entre página de livro e mancha tipográfica" é, além do meu artigo favorito do grande Jan Tshchichold, o tema do próximo post do tutorial. Novamente, peço paciência a quem ainda visita meu blog, mesmo que não entenda nada de tipografia. Até mais!

por Amanda Meirinho, em 28.8.09 |




8 comentário(s)
Blogger Unknown disse…

Discordo de tudo, sim senhoooooooore. Acho a Arial, 10, fantástica pra livros. Ademais, gosto também de lombo assado com batata!

31 de agosto de 2009 às 10:30  


Blogger Amanda Meirinho disse…

e de frango de churrasco no seu pós-operatório da vesícula. SEI.

comentário sério que é bom, nada. aí que a gente conhece os amigos, SIM SENHOOOORE.

31 de agosto de 2009 às 12:16  


Blogger sandro lopes designer disse…

Grande Amanda. Com que então a moderna Apollo? Li no twitter que tentaste a perpetua 12/15 :) Muito difícil de trabalhar com esse typeface. Tens hastes muito prolongadas em relação ao corpo propriamente dito. Quase que afirmo que a formatação "sólida" (sem leading) funciona. É um desafio. Acho o teu post interessante mas era pertinente falares da família da Minion Pro. Sabes que ela tem vários redesenhos subtis na família, em função das escalas em que deve ser usada. Display 16pt "mais fina", Caption para 6/8pt mais grossa e com espacejamento maior, caps, etc. que a tornam versátil e respeitam a tradição tipográfica de ser redesenhado em função do corpo. Uma boa utilização será no "Elements of Typographic Style", paginada pelo prório Bringhurst. Como disseste e bem, ela tem uma altura de x relativamamente grande, o que pede uma maior entrelinha e resulta melhor em colunas mais apertadas. A Apollo tem, porém, um pequeno handicap, parece maior que o que é. Na impressão fico sempre com a sensação que poderia ficar maior, ou com a entrelinha mais apertada. Mas mais uma vez, o que conta são as opções conjugadas, ainda que possam ser pessoais. Gostei do tutorial, mas acho que devias evitar o uso do Lorem Ipsum. A língua latina tem métricas diferentes da portuguesa e pode ser enganador. ;)

2 de setembro de 2009 às 08:22  


Blogger Amanda Meirinho disse…

é por essas e outras que uso a família minion pro, e não a minion. a comparação foi feita apenas no peso regular da apollo e da minion, não contemplando os pesos display, etc. estamos falando de texto corrido, sandro, e não de títulos, logotipos, ou peças publcitárias, que levariam a celeuma tipográfica para outro plano. conheço bem todos os pesos da minion pro, mas, sabe como é: na prática, a gente raramente recorre a eles.

agora, não entendo quando você diz que a apollo parece menor do que é. como assim? eu uso ela justamente quando não posso trabalhar com uma entrelinha muito grande, mas quero dar essa sensação "espaçosa" para o texto. para mim, não é handcap algum.

quanto ao uso do lorem ipsum, é o único texto cego que sei de cor, e esses diagramas foram compostos num dia em que a internet tinha caído por aqui. conhece o "lépidas raposas fagueiras", ou algo do tipo? é um texto cego em português, muito útil.

2 de setembro de 2009 às 12:21  


Anonymous Henrique Placido disse…

Paciência? Este blog é uma cornucópia! É difícil achar blogs sobre design editorial em língua portuguesa. Manda mais, manda mais! rs.

Parabéns pelos posts, muito informativos e cada vez melhores.

10 de setembro de 2009 às 09:53  


Blogger Tony disse…

Amanda!! Conheci seu blog agora e tenho q te dizer, QUE PÉROLA! caramba, muito bom mesmo.

Ahhh tenho uma observação a fazer, não sei se alguém já lhe atentou ao fato, mas aqui vou eu..

Tipologia é um termo usado para o estudo dos "tipos" da natureza, não é necessariamente relacionado a Tipografia. O correto é usar Tipografia e não tipologia para definir os "tipos" usados em design.

Isso é uma coisa q eu tenho visto q muita gente confunde, inclusive eu, mas depois de corrijido e entendido fez bastante sentido.

Muito obrigado por este conteúdo excelente! =D

Antonio

1 de dezembro de 2009 às 08:05  


Blogger Amanda Meirinho disse…

Oi Antonio,

Recentemente tive uma discussão parecida com o meu marido a respeito dessas terminologias. Tipografia possui uma definição muito mais ampla do que a que você definiu, por isso evito usar o termo quando quero falar de fontes. O termo mais preciso é o inglês "typeface".

Tipologia não é apenas o estudo dos "tipos" na natureza. É um termo gráfico também, que discute as razões de ser por trás dos tipos. Quase como uma ciência, talvez.

No post, uso por vezes o termo tipologia de forma equivocada, e peço desculpas por isso. Vou corrigir isso já-já.

bjs!

9 de dezembro de 2009 às 09:35  


Blogger Tony disse…

Oi Amanda!

hehe, agora eu fiquei um pouco confuso... já vi muita gente cair matando em cima de quem fala tipologia querendo dizer tipografia. Se formos pensar na natureza da palavra tipologia, "estudo dos tipos", faz sentido poder ser usado quando nos tratamos aos tipos gráficos focando a razão de ser dos tipos.
Bom... para falar a verdade eu ainda não tenho base alguma para expor alguma opnião sobre o assunto, mas como um estudante posso te fazer uma pergunta chata?

Quando é que se usa o termo tipografia e quando que se pode usar o termo tipologia?

quem sabe você possa fazer um post sobre isso em vez de responder aqui nos coments, claro, se tiver vontade. Acredito que há muitos com essa mesma duvida.

=)

Ahh, e obrigado por responder! =D

29 de dezembro de 2009 às 10:59  


Postar um comentário

<<



"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

Header: Leda e o Cisne, Giampietrino, 1495–1549.

rss | portfolio |e-mail | linkedIn | facebook | last fm | twitter | tumblr