galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



TUTORIAL, PARTE 1: ENTENDENDO O FORMATO DO LIVRO

Livros de "texto" são, e sempre serão, servos fiéis de sua palavra escrita. Sem maiores distrações do que esta ou aquela nota de rodapé, esses pequenos objetos de desejo devem ser enxergados com um tipo raro de sensibilidade pelo projetista. É sua obrigação dominar pelo menos o léxico básico da narrativa a ser convertida em livro para elaborar de forma coerente sua identidade visual: sua indumentária.

Uma vez que o designer tenha compreendido plenamente o espírito do livro, todo o resto deve fluir, com a tranquilidade de um artesão insipirado e dedicado. É possível,então, desenvolver para si mesmo algumas premissas práticas, que nada têm do romantismo, ou, pior, do "talento" intrínseco que faz com que muitos confundam o projetista como uma espécie de artista gráfico.

POSICIONAMENTO

Normalmente, quando "penso" um livro, tendo já dominado sua narrativa, começo automaticamente a divagar sobre que tipo de pessoa gostaria de folheá-lo. Pergunto-me, sempre, se o livro é um best seller em potencial ou um livro de "nicho"; se ele será comprado por impulso, ou se suas vendas já estão bem ancoradas em um público cativo. A partir daí, defino seu formato.

A tradução da narrativa em texto para a imagem deve levar em conta sempre sobre o quê, e, em larga medida, sobre quem a narrativa trata. Assim como uma mulher de quadril largo alonga sua silhueta em uma saia em "A", um denso livro de história parecerá menos pesado se seu formato for um pouco menos largo do que o padrão ISO 16x23cm; a mesma comparação vale entre um sujeito magro demais, que usa listras horizontais para parecer mais "cheinho", e um mirrado livro de artigos, em um formato um tanto mais atarracado do que o usual.

Definir o formato do livro é sempre um exercício de sensibilidade, mais semelhante à ciência inexata do "bom senso" do que, ao meu ver, seria adequado arriscar.Mas, como minha obsessão pela harmonia chega frequentemente às raias do desespero, costumo me ancorar, sempre, em elucubrações matemáticas para definir se este livro merece uma saia em "A", ou listras horizontais; contas essas que creio que todos que passaram pelo menos dois anos na escola devem estar remotamente familiares.

Vejamos, então, um exemplo prático.

MEDIAÇÕES HISTÓRICAS: O GIGANTE ADORMECIDO

Parto do princípio que um livro com mais de 200 laudas, não diagramadas, deverá sempre ser em um formato superior ao padrão 14X21cm. Um livro de tamanho menor do que esse será pesado demais para o leitor; maior, trará tantas dificuldades de manuseio quanto um sanduíche que não cabe na boca de um homem adulto.

No caso de Mediações Históricas, pensei, em um primeiro momento, em adotar o padrão ISO 16x23cm. Os formatos padrões terão sempre melhor aproveitamento de papel do que os personalizados, pois seus fabricanetes produzem folhas que seguem também rígidos padrões de comprimento, largura e espessura. Ignorar essa informação significa prejuízo para a editora, e, em larga medida, para o próprio meio ambiente, já que a manufatura de papel ainda é uma atividade extrativista.

No Brasil, os formatos das folhas abertas que, dobradas, compõem os cadernos do livro, são:

A0 (84,1x118,9cm)
AA (76x112cm)
AM (87x114cm)
BB (66X96cm)

Para um livro de texto 16X23cm, cada caderno terá normalmente 32 páginas. Cadernos de 16 páginas são adequados, nesse formato, se o livro tiver até 64 pp, ou se o tipo de papel adotado for espesso demais para uma encadernação tradicional.

Embora essas informações sejam relevantes, para Mediações Históricas optei por um formato fora do padrão por uma só motivo: o livro é um calhamaço. Se o fizesse em 16X23cm, estaria seriamente tentada a compor uma mancha gráfica extremamente larga, o que para o leitor é um aborrecimento, ou deixar margens largas demais, o que me incomodava bastante, dada a densidade teórica da narrativa.

Adotei como padrão pessoal, então, que, um livro grande e grosso, terá, no máximo, doze palavras por linha. Um livro pequeno e fino, oito. Para a composição de textos em português, o cálculo procede, já que nossa língua é composta por palavras de, em geral, duas, três ou quatro sílabas. O mesmo não valeria, por exemplo, para alemão, língua em que as palavras se mesclam de forma um tanto "misteriosa" para os estrangeiros,

Em Mediações Históricas, resolvi ressaltar a verticalidade do texto, de forma a levar o leitor a encarar as 36 linhas de sua mancha e sua exaustiva sucessão de notas como um passeio por uma torre de observação medieval.


O formato adotado é de aproximadamente 14,28X22,7cm. Não é um formato que desperdiça tanto papel, pois é irrisoriamente menor do que o 16X23cm, e, ainda assim, está no limite do conforto da leitura.

Mantendo a mesma mancha gráfica, em função dos preceitos de legibilidade (quantidade de palavras por linha) que espefiquei mais acima, o livro, em 16X23cm, ficaria assim.


Para o leitor, o resultado é bastante incômodo, já que nada justifica uma mancha tão estreita para um livro tão extenso. Mantendo as proporções, a mancha ficaria assim:


O resultado é mais incômodo ainda, pois, além de 36 linhas de texto de comprimento na mancha, esta terá uma largura exagerada, e, portanto, inadequada. Para tanto, seria preciso aumentar o corpo da fonte, que, grosseiramente, traria o seguinte resultado:


Além de parecer mais afogado, por conta do reajuste do corpo da fonte sem um cálculo análogo para a entrelinha, o texto teve absolutamente o mesmo rendimento do formato 14,28X22,7cm.

PROPORÇÕES E SABATINAS

A escolha pelo formato 14,28X22,7cm não partiu apenas da observação empírica de outros livros "de estudo" semelhantes. Vale a pena ressaltar que diversos autores divulgam tabelas de possíveis formatos de livros. Decidir-se pelo formato mais adequado é um exercício de sensibilidade e bom senso, porém, e não uma ciência exata.

O formato é uma aproximação da proporção 5:8, conhecida também como "6ª menor". É um formato deliberadamente estreito, seguindo uma proporção bastante racional; para tanto, converterei as medidas de centímetros para pontos, a fim de melhor me expressar.

Aliás, aconselho a sempre se trabalhar com pontos, pois tipografia é pensada nessa unidade, e não em centímetros. Claro que pode-se trabalhar em centímetros, mas tem-se que estar preparado para encontrar mais casas decimais do que o desejado.

14,28X22,7cm = 405x645pt

405/5= 81
645/8= 80,625, ou seja, aproximadamente, 81.

81/81=1

A digressão matemática é necessária para comprovar a infalibilidade das proporções, mas não é, pelo menos nesse caso, o caminho pelo qual cheguei ao 405X645pt.

DEFININDO O GRID

Uma vez compreendido o tipo de narrativa do livro em questão, e, portanto seu formato mais indicado, parto automaticamente para a definição da entrelinha, algarismo esse ao qual me agarro feito um coala na elaboração de todos os demais elementos tipográficos. A entrelinha representará o mínimo múltiplo comum (MMC) de todo o livro, sendo essencial defini-la de forma a evitar deslizes no design, o que estraga de forma irremediável meu trabalho.

Em Mediações Históricas, optei pela entrelinha 15, pois ela me permitiria trabalhar com uma fonte serifada que muito me agrada (Apollo) em um corpo confortável, sem que o livro parecesse afogado, e portanto, entediante. A partir daí, cheguei às demais proporções.

A decomposição dos números 405 e 645 justificará essa decisão.

Múltiplos inteiros de 405:

405 - 1, 3, 5, 15, 27, 45, 81, 405

Múltiplos inteiros de 645::

645 - 1, 3, 5, 15, 43, 215, 645

Obedecer certo rigor matemático é garantia de bons resultados em livros de texto tradicionais. Manter esse tipo de disciplina não apenas auxilia o trabalho do projetista, como o do leitor, que, mesmo insconscientemente, perceberá a harmonia.

15 se tornou, no caso, a unidade universal que "rege" o livro em questão. É um número inteiro, com o qual adequei o formato para meus interesses enquanto projetista, e fácil de trabalhar, pois seus múltiplos são facilmente calculáveis.

Graficamente, a unidade 15 pontos é repetida no seguinte padrão em um spread do livro:


Eis o esqueleto, matematicamente harmônico, do grid tipográfico do livro em questão.

***

Partindo para as súmulas, e, infelizmente, assumindo o tom didático, ao se pensar o objeto-livro, deve-se levar em conta sua legibilidade, portabilidade, rentabilidade, e elegância.

Se a compreensão da narrativa visual não se baseia em nada além do mais etéreo "bom senso", as premissas acima en.umeradas podem ser facilmente resumidas em equações, traduzidas em polinômios, ou, se preferível, diluídas em fórmulas prontas.

Legibilidade é o vértice principal, pois um livro de texto que não pode ser lido não merece ser assim chamado; portabilidade e rentabilidade costumam dar as mãos, já que muitos livros barateados saem caros, e vice-versa; e, elegância, que, em resumo, consiste em obedecer algumas regras de etiqueta capazes de tornar belo um trabalho que sofre até mesmo a maior das limitações.

Trabalhar com um grid é uma opção minha. Pode-se chegar à legibilidade, portabilidade, rentabilidade, e elegância sem obedecer uma correlação matemática tão estreita e coerente. Mas, por experiência própria, garanto que é mais simples se chegar ao belo partindo de algumas continhas. Afinal, fazer livros não é exatamente uma ciência exata: tudo depende; afina e desafina.

Em uma próxima postagem, esmiuçarei meus métodos de trabalhar com o grid tipográfico, utilizando novamente o Mediações Históricas como modelo. E haja paciência, pra quem não gosta de tipografia!

por Amanda Meirinho, em 13.8.09 |




9 comentário(s)
Anonymous taynée disse…

Muito útil! hehehe...

Mais quais são as margens deste último formato 14,28X22,7cm ?

Aproveito para sugerir um post sobre as melhores fontes para livro de texto corrido, sem cair no lugar comum (garamond, minion, sabon, etc...)

bjs!

21 de agosto de 2009 às 13:45  


Anonymous taynée disse…

Erro!
*mas

21 de agosto de 2009 às 13:47  


Blogger sandro lopes designer disse…

Gostava apenas de dizer que é preciso ter atenção ao typeface que se escolhe, se se está a pensar em grelhas antes. Ou existe uma noção da altura de x e das proporções do typeface a a utilizar, ou então essa grelha poderá falhar, porque quando se estudar a entrelinha em função da altura de x, haverão pontas a limar, e novos cálculos terão de ser feitos. Sou de acordo em relação à grelha, mas antes uns estudos empíricos de relações para determinado typeface, pouparão dores de cabeça em ajustes, não achas Amanda? Quando aos melhores typefaces... o que se pretende é legibilidade e lecturabilidade e não é preciso recorrer apenas aos clássicos. Existem typefaces recentes com "propriedades clássicas", mas de aspecto "mais contemporâneo". O importante é funcionar, para ser lido, porque é esse o objectivo! ;)

27 de agosto de 2009 às 06:30  


Blogger Amanda Meirinho disse…

calma, a gente chega lá, sandro! correlação coerente entre altura x e o formato do grid é o próximo capítulo.

e sim, eu penso primeiro o grid, depois procuro a fonte ideal. coisa de quem tem que correr com cinco projetos ao mesmo tempo.

estou terminando os diagramas agora, já posto. beijos!

28 de agosto de 2009 às 07:42  


Blogger sandro lopes designer disse…

Já agora... nas imagens que tens, vi que usaste a Apollo, do Frutiger combinada com a helvetica. Poderias, na minha opinião, ter optado por uma univers ou, melhor ainda, pela frutiger, porque tens as mesmas proporções. Já paginei um pequeno livro com Apollo/Frutiger e funcionou muito bem. Ainda assim, acho as tuas proporções de coluna muito agradáveis, se bem que lhe dava uma margem superior maior. Peço desculpa pelas críticas, mas é inevitável entre designers, não achas? ;) Fico à espera das tuas provas irrefutáveis, se bem que cada um desenvolve um metodo com o qual se identifica mais. Outra coisa... se tens 5 projectos ao mesmo tempo... não me queres passar um ou dois? ;) Beijinho.

28 de agosto de 2009 às 08:14  


Blogger sandro lopes designer disse…

... e sim, a Lupton é uma pessoa muito simples, de aparelho nos dentes e amante da Scala e Thesis sans. ;)

28 de agosto de 2009 às 08:15  


Blogger Amanda Meirinho disse…

ih, sandro, apollo e univers e apollo e frutiger já usei em outros dois livros! ficou muito bom, principalmente o que usei apollo e frutiger.

o cabeço superior é assim mesmo, apertado, mas esse projeto está no limite do conforto tipográfico mesmo. as margens são econômicas ao extremo, pois tenho responsabilidades como produtora gráfica com a rentabilidade do produto!

apollo e helvetica fizeram um lindo casamento, já que a apollo tem muito mais ângulos retos no seu desenho do que você poderia imaginar. mas me deixa terminar os diagramas da parte 2, senão ela não sai nunca, viu?

beijos, e obrigada pelos seus comentários!

28 de agosto de 2009 às 08:36  


Blogger Tony disse…

Olá!

Nossa, não consegui entender muito a parte das proporções que você cita, como assim proporção 5:8? Eu entendi que segue a sequencia do Fibonati mas nao compreendi como e porque você aplica 5:8, isso define o tamanho do livro? Se fosse 3:2 seria diferente? Isso q eu nao entendi...
E a parte do MMC, o que isso ajuda? Pq o 15 é o numero universal? Como voce construiu o grid a partir desse numero 15? Ahhhh, desculpa... sahusauhsa tentei entender por conta, fiz pesquisas aqui, mas nao encontrei nada que me ajudasse...
Por exemplo, se eu estou desenvolvendo um livro num formato A5, como eu defino essa grid se a proporção do livro não segue o phi. Tenho que partir para outro esquema de proporção? E como eu defino o numero universal que define toda a proporção?

Desculpe por essa amolação, sahusauh a culpa é sua, ninguém mandou compartilhar esse conhecimento tão bom, eheh

Obrigado!

Antonio

2 de dezembro de 2009 às 06:36  


Blogger Amanda Meirinho disse…

Oi Antonio,

5:8 indica que se você dividir a largura do livro por 5, e a altura do livro por 8, o resultado é 1.

o MMC apenas mostra que tanto a largura quanto a altura do livro podem ser divididos por 15. 15 é um número inteiro, fácil de se trabalhar, por isso adotei ele como unidade-base do grid.

o formato A5 é contra-indicado, uma vez que as marcas de corte não podem ser inseridas num A0 para um miolo feito nesse formato. o melhor é você usar o ISO 14X21 cm, no caso, que segue a proporção 2:3.

aconselho você a usar a unidade base 15,25pt para a construção do seu grid.

bjs!

9 de dezembro de 2009 às 09:22  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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