galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



EGO TRIPPING AT THE GATES OF HELL

Provavelmente estou sendo terrivelmente chata, ou, precisamente, pernóstica, mas trabalhar para mim envolve pesquisa, e muita, antes de tomar qualquer efeito "bonitinho" por definitivo. Sim, estou nessa editora há menos de um mês, mas a demanda é relativamente grande, de forma que trabalho ao mesmo tempo em três projetos de miolo e capa com a calma que eles merecem e precisam. E tem dado certo, porque, no fundo, é assim: ou você acha que esse negócio de tipografia é intuitivo, que vem quando a gente fecha o olho e pronto, ou você mergulha em um monte de livros antes de se decidir. E eu sempre caio para o lado da pesquisa.

Por exemplo; para um desses livros, estou usando Apollo, uma fonte de texto discreta, que possui um desenho tão bom quanto qualquer fonte clássica, apesar de ter sido projetada em 1964. Acompanhando, vem a Frutiger, sem-serifa originalmente pensada para a sinalização do aeroporto de Paris, mas que vai muito bem uma página de texto. Ambas são criações de Adrian Frutiger, o que justifica em parte a harmonia da composição, embora não seja apenas de boa tipografia que é feito um bom projeto de livro. O formato é padrão: 14X21cm, miolo em uma cor, capa a quatro ou duas cores (CMYK ou Pantone, com parcimônia), papel offset (branco e áspero) para o texto. E, mesmo assim, creio ter encontrado a beleza. O resultado, em texto cego, é esse:


O esforço aqui é fazer de um livro de estudo uma leitura agradável, com cuidado para não tornar o trabalho excessivamente autoral, como é o caso da disposição pouco usual das notas. Há uma linha tênue entre o trivial e o sublime, e entra aí uma boa dose de bom-senso: o sublime, em um livro de texto, não é pra ser uma camisa de força, e sim um exercício de paciência e sensibilidade.



As notas são incluídas em um corpo um tanto menor exatamente na linha onde aparece a referência, em um quadradao de texto que avança um pouco a mancha gráfica, o que justifica as margens internas exageradamente largas. É uma solução bonita, sim, mas pouco prática, pois não consigo automatizar sua disposição na mancha como é o caso das notas de rodapé. Estou lidando com apenas 45 notas em um livro de pouco mais de duzentas páginas, porém. Não chega a ser um pesadelo.

Os códices medievais possuiam as notas nas margens externas, já que a proporção 2:3:4:6 as fazia largas o suficiente para tanto. Os padrões atuais de livros de texto não permitem projetos tão generosos assim, de forma que as notas costumam ser mandadas para o rodapé, quando não são relegadas a umas tantas páginas ao fim do livro. Das três soluções, a mais antiga é definitivamente a mais amigável para o leitor, só que seu uso em livros de texto é tão raro quanto uma publicação em um outro formato que não 12X18cm, 14X21cm ou 16X23cm. E livros de estudo precisam caber em uma mochila.

Publicações acadêmicas são livros que devem poder ser lidos tanto no metrô quanto numa escrivaninha. Dificilmente alguém os deixaria como decoração em uma mesa de centro, ou o exibiria como objeto de arte em uma reunião entre amigos. Esses livros tem que poder ser esgarçados por um polegar sem estragar seu conteúdo. Eles precisam poder ser anotados e marcados sem serem estragados, precisam enfim se tornar um joguete na mão do leitor. Eles não podem, nem merecem, ser feios, e, engraçado, normalmente o são. Suas capas mal trabalhadas frequentemente se tornam cinzas com a poluição de um dia. A ausência de orelhas os transforma em tijolos tortos, com as páginas ensebadas e amassadas, que os faz serem relegados com certo nojo ao fundo de uma gaveta Sua vida é tão efêmera quanto a chegada de uma nova edição comentada, o que é uma tremenda injustiça.

Transformar as gatas borralheiras do design em uma pequena manifestação do sublime é páreo duro, e muitos optam pelo banal no meio do caminho. As soluções mais simples nem sempre são as mais acertadas, pois o resultado se torna pouco criativo em sua funcionalidade. Claro que, criatividade, nesse caso, não é nenhum exercício de pirotecnia, e sim ao meu ver bom uso dos elementos de estilo tipográfico à sua disposição. No miolo do livro em questão, o tom autoral está na disposição das notas, que são emolduradas pelo texto sem agredi-lo. O efeito é bonito e discreto, e, o melhor, prático para leitor, apesar de ser um tanto trabalhoso para mim. Em se tratando de uma coleção, esse tipo de nota é pouco recomendado, pois seu feitio não-automatizado dá margem para erros de composição: o que fazer se a nota avança por duas páginas, por exemplo?

Bem, já chega de falar de trabalho. Outro dia confessei para Leonardo que não leio livros de graça desde que comecei a fazê-los, mas ainda vive em mim uma certa reverência pelos que vão ler os livros que faço. Espero assim estar sendo útil para a sociedade. Ah, essas crianças...!

por Amanda Meirinho, em 3.5.09 |




2 comentário(s)
Blogger Fábio François Fonseca disse…

já que você falou dos livros de estudo acadêmico, vou fazer uma reclamação aqui: livros com margens muito pequenas, eu quero anotar uma consideração ou objeção e não tem onde. em filosofia faz uma falta...

14 de maio de 2009 às 14:10  


Anonymous Simone disse…

Você diagrama - quer dizer, PRODUZ EDITORIALMENTE - como eu escrevo. Muita pesquisa e resultado tão limpo que parece que você tirou da cartola. Que nada, dá um puta trabalho.
E como vai o Arthur? Pelo andar da carruagem, vou vê-lo na festa de 1 ano...

17 de maio de 2009 às 15:20  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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