galera se liga no meu tumblr FUCK ME HARD ZEUS apenas imagens do deus dos deuses mandando ver nas quebrada nao marginais



STUPPACHER MADONNA

Estava procurando um presente para o André, que fazia então 22 anos, e, como a família dele tem a livraria mais bacana do Rio de Janeiro, achei que seria uma tremenda gafe dar pra ele o presente que dou pra todos os meus amigos, via de regra, um livro. Decidi então dar uma volta pelos sebos e procurar alguma coisa fora de catálogo, mas, como estava a uma semana do meu parto, demorei tanto para sair de casa que quando pus os pés na rua, o comércio já estava quase todo fechado. Parei então para falar com um camelô, desses que vendem livros no chão, e decidi complementar a coleção Gênios da Pintura que Bruno e eu estamos construindo. Foi aí que encontrei o livro do Grünewald, e me apaixonei.

O primeiro quadro que vi de Grünewald era um Cristo, moribundo, marcado pelas chagas da peste bubônica, estampado em um livro de arte para crianças, que, por algum motivo obscuro, não consigo encontrar aqui em casa. O quadro me impactou não exatamente pela técnica de Grünewald, ou por ser um tríptico, e sim pela sensibilidade INCRÍVEL do artista: um Jesus Cristo morto pela peste na alta idade média é quase uma Maria Madelena de calcinha na VM. Isso é atual. O resto é balela.

Só que esse quadro me deu uma imagem equivocada da técnica de Grünewald: a de uma paleta escura, triste, pessimista. O que, pelo que pude verificar lá pela quinta página do Gênios da Pintura, ele, de fato, não tem.


A Madona de Stuppach é uma das representações mais cândidas da virgem com o menino. Tudo bem, a criança parece um sapo, mas até meu filho vira um monstrinho quando fotogrado de um ângulo desfavorável. A delicadeza, os gestos, o arco-íris, e o detalhe da figura divina na extrema direita do quadro: Grünewald imprime força, beleza e anos 1970. I heart Grünewald.

A composição é clássica, mas a sensibilidade de Grünewald suplanta essa falta de ineditismo. Poucos são os artistas que representaram a dor de forma tão humana, e o mesmo vale para a leveza desse retrato. As representações de madona e Jesus descambam quase sempre para imagens rígidas, permeadas por uma felicidade respeitosa, quase grave de tão santa. O que se vê aqui é um bebê de quatro meses, desdentado e gordinho, se pondo de pé no colo da mãe, olhando-a, ela sim, com devoção, e não o contrário. A criatura divina é o bebê, e sua mãe, segundo o dogma, sua criação. Grünewald inverteu os papéis, retratando uma cena de amor entre mãe e filho perfeitamente plausível e vulgar.

A escolha da paleta também é bastante original. A susbtituição da auréola da madona e da criança por um arco-íris, bem como a representação misteriosa de um deus luminoso acompanhando a inclinação da cabeça de Maria, são escolhas pouco usuais para uma obra sacra. Grünewald é um pintor da alta Idade Média; o quadro data de 1517-19. A composição é, no mínimo, alegre: a madona leva um anel na sua mão direita, e uma romã madura entre os dedos. Três pessoas entram na igreja à esquerda, e , atrás da árvore retorcida que serve de banco para a virgem e o menino, passa uma mulher com um cesto na cabeça. A paisagem, provavelmente da própria cidade de Stuppach, dá ao quadro o tom "contemporâneo" que o artista procurava, bem como o vestido de noiva de Maria. O céu de primavera, os Alpes, e os lírios brancos com rosas e margaridas vermelhas; o quadro todo grita fertilidade. A Madona de Stuppach me faz ovular.

Grünewald possui um outro quadro bacana, com uma paleta parecida, carinhosamente apelidado Jesus Cristo pop star. A ver:


O Altar de Isenheim foi feito na mesma época que a Madona de Stuppach, e é o tríptico mais conhecido de Grünewald. Essa é a parte direita do tríptico, e representa a ressurreição de Jesus. Repare que os soldados lá embaixo estão mais para cavaleiros nas Cruzadas do que para centuriões romanos...

O Cristo renascido de Grünewald é uma explosão de amor e psicodelia. Deveria ser a capa de um disco do Yes. Os gestos, novamente, a composição, os maneirismos, as cores, a iluminação pela fé, mostram uma imagem arrebatadora, surpreendente, maravilhosa. Pessoalmente, não me recordo de cena alguma capaz de transpor o esplendor que é essa representação da ressurreição, talvez Aníbal atravessando os Alpes, de Turner. E ainda há quem considere arte sacra um tema tedioso.

Um Jesus esvoaçante e colorido sai de sua tumba para o mundo dos homens, cegando os infiéis e iluminando a noite. Suas chagas resplandecem em vermelho e amarelo, e sua auréola, grande como um sol, se confunde com sua manta, das cores de uma tocha em chamas. Seu olhar, inesperadamente focado no espectador, mais parece o de um bodhisattva, sereno e sábio. Ao contrário dos seus contemporâneos italianos, a arte, para Grünewald, parece estar mais focada em transmitir uma mensagem de fé, seja pela dor ou pelo esplendor. Uma mensagem direta, sem a sofisticação simbolista de Giorgione, precedendo artistas igualmente impactantes como El Greco: isso sim é que é ser expressionista.

Para quem quiser saber mais, este texto sobre a Madona de Stuppach e esta biografia do artista (em inglês) podem ajudar. E, para quem ficou curioso sobre a história do presente de André, que fique sabendo que acabei por comprar uma garrafa de Germana, devidamente entregue alguns dias depois de seu aniversário, já com o Arthur em casa. Talvez cachaça seja realmente um presente mais apropriado do que um livro. O início de uma era? Não sei...

por Amanda Meirinho, em 27.3.09 |




1 comentário(s)
Anonymous Anônimo disse…

massa

31 de maio de 2010 às 16:58  


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"Nem por todo chá na China" é uma corruptela da expressão "nem por todo o chá da China", que quer dizer "nem que a vaca tussa", "nem daqui a mil anos", ou, enfim, "nunca". O título é uma tradução livre de um trecho de All my Little Words, The Magnetic Fields: Not for all the tea in China/Not if I could sing like a bird /Not for all North Carolina/ Not for all my little words.

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